Se alguns ainda não a conhecem, logo que conhecerem pelo
menos alguns aspectos da vida desta jovem carmelita não poderão menos que
gostar dela.
Eu a conheci e gostei tanto, não tem como não se sentir
tocado, não tem como não se encontrar e identificar com algum aspecto da sua
personalidade. Ela é tão atual, seus conflitos revelam a face de uma jovem
apaixonada por Jesus, mas que também conheceu o amor humano e soube vive-lo.
Eis uns poucos dados, que partilho com vocês queridos
leitores, com o intuito de não guardar para mim aquilo que me fez tanto bem,
desejo que ela os cative também, e lhes revele o rosto de Deus e as exigências
do amor verdadeiro.
Maria Felícia Guggiari nasceu no Paraguai em 1925. Ela é a
primogênita de 7 irmãos, com os quais sempre teve um bom relacionamento, todos
muito unidos e amigos. Destes 7 ainda vivem 4 irmãs, cujas fotos estão
colocadas mais abaixo.
Ela é familiarmente conhecida pelo apelido de
"Chiquitunga", o qual desde criança o pai lhe deu devido ao seu
tamanho, pois era miudinha.
De sua infância recolhemos uma lembrança que sua mãe Dona
Arminda sempre guardou na memória: "Um dia de muito frio, Chiquitunga
voltou da escola tremendo de frio porque tinha dado seu agasalho (um sobretudo
dado pelo pai) a uma menina pobre. Sua mana denunciou-a aos pais, e às
repreensões do pai ela respondia 'vês paizinho, que não sinto frio! Repetia,
passando as mãozinhas pelo braço nu e tiritante"
Aos 16 anos ingressou
na Ação Católica, onde com empenho dedicou-se à propagação do Evangelho, não
somente com palavras, mas principalmente por atos no serviço aos mais
necessitados. Sua vida está repleta de gestos que transparecem sua intensa
intimidade com Deus cultivada na oração e na Eucaristia, como por exemplo o
fato de percorrer de bicicleta toda a cidade de Assunção, com um pequeno
mapinha, para ir ao encontro dos irmãos, visitando-os em suas casas, fazendo-se
tudo para todos, a fim de conquistá-los para Cristo. Ela conversava com eles
acerca de suas preocupações, seus anseios, os escutava, os aconselhava, era
muito simples, conseguia chegar ao coração. Sempre vestindo um guarda-pó
branco, para se sentir mais próxima de seu povo, o sorriso na flor da pele, as
tranças entrelaçadas com fita azul, o jasmín colocado na altura do peito...
Na Ação Católica encontrou um ideal e um objetivo que
orientou toda a sua vida, ali fez também a sua consagração ao apostolado,
assumindo vários cargos, entre os operários e operárias, entre os jovens
universitários e operários, entre as crianças,
idosos, doentes... a vemos atuando em tudo o que possa render mais tarde
frutos de cristianismo, por isso procurava sempre novos campos de trabalho, ela tinha o desejo de estar toda inteira em
todos os lugares.
Dormia muito pouco, devido a que tinha também que dar conta
do seu trabalho e dos estudos, pois formou-se professora e como tal trabalhava.
Em altas horas da noite a casa toda dormia, mas ela continuava escrevendo ou
rezando. Como estudante permanecia durante a noite preparando, à luz de uma
velinha, as aulas de prática de suas companheiras.
O irmão "Freddy" (agora falecido) contava uma
anedota: Voltando ele da faculdade a encontrava rezando com os braços em cruz.
E como eram muito amigos os dois, ele para brincar ia tirando a gravata, e a
colocava pendurada em um dos braços da mana, logo o cassaco, depois a camisa.
Ela sorria e dirigia-lhe um olhar tão doce, como perguntando: Tu me fazes isto?
Maria Felícia, a apóstola por excelência, se encontra com um
jovem dirigente da AC com quem comparte o mesmo ideal: Angel Sauá; juntos
trabalham, se apoiam mutuamente no apostolado, percorrem os bairros mais
pobres, assistem os irmãos. O natural teria sido que dita relação terminasse em
matrimônio, porém não foi assim. Em um ato de heroísmo sem par se separam
empreendendo ele o caminho do sacerdócio e ela o da vida religiosa. Em seu
diário ela escrevia: "Muitas vezes tinha concebido isto que agora, Senhor,
é maravilhosa realidade: que lindo seria ter um amor e juntos imolá-lo ao
Senhor em prol do ideal".
Sua maturidade é tão grande que numa das cartas escritas a
Sauá, após uma jornada de serviço aos irmãos e que culminou com a chegada de
ambos ao hospital para doar sangue a uma anciã, ela confessa "o nosso
sangue, que podia unir-se no corpo de um filho, se uniu hoje no corpo de um
pobre..."
Em seu desejo de viver o seu lema "tudo te ofereço,
Senhor" se pergunta onde seria o lugar dessa entrega total.
Mas o Senhor é o seu guia, e é Ele que conduz os passos de
seus filhos conforme sua vontade. Ele levou-a a encontrar-se com a priora do
Carmelo de Assunção, Madre Teresa Margarida que estava hospitalizada.
Chiquitunga encontrou nela uma verdadeira mãe, que a ajudou no difícil processo
de imolar o seu amor e também a guiou no momento de dúvidas que estava vivendo.
E é esta monja que aprendeu a conhece-la, que ouviu os seus segredos, os
reveses de sua alma, as suas angustias, mas também presenciou os momentos de alegria,
conheceu a heroicidade de seu coração generoso e maravilhosamente humano.
No mês de janeiro saiu de um retiro, decidida a entregar-se
inteiramente a Deus como Carmelita Descalça, contudo pela frente tinha uma
dolorosa batalha, pois a tarefa de convencer o pai não foi fácil, e embora
sendo maior de idade o respeito por ele era tão grande, que não queria tomar
uma resolução sem o seu consentimento.
Superados com a graça de Deus todos os obstáculos, ingressou
no Carmelo no dia 2 de fevereiro. A Madre Teresa Margarida resumiu em poucas
palavras a atitude de Maria Felícia desde o principio de sua vida religiosa:
"grande espírito de sacrifício, caridade, generosidade, todo envolvido em
grande mansidão e comunicativa alegria, sempre vivaz e brincalhona".
Antes da toma de hábito uma nova prova invade a sua alma;
questiona-se se seria vontade de Deus que ela se encerra-se toda a vida,
havendo tanta necessidade de evangelização no mundo. Uma vez conhecida a
vontade de Deus, vestiu o hábito e começou o noviciado com alegria. Fez sua
profissão temporária no ano seguinte, em 15 de Agosto de 1956.
3 anos mais tarde, no dia do enterro de sua irmã querida
"Mañica", que faleceu devido a uma hepatite, a família toda fica
sabendo que a filha religiosa foi acometida do mesmo mal. Logo de examiná-la o
mano médico, o Freddy, declarou a urgente necessidade de que fosse
hospitalizada. Isto em janeiro de 1959.
Começa a Quaresma, o mal cedeu aparentemente e pôde
reintegrar-se a sua querida comunidade, porém poucos dias depois, após uma nova
revisão lhe diagnosticaram "púrpura" e foi novamente hospitalizada.
Permaneceu no hospital até o dia de sua morte. estar longe
de seu convento representava para ela uma grande mortificação. contudo, viveu
seus últimos dias em total abandono à vontade de Deus. Antes de entregar seu
espírito a Deus pede que lhe leiam um poema de S. Teresa "Morro porque não
morro".
Dirige-se a seu pai, pois toda a família está junto de seu
leito, e lhe diz: 'paizinho querido, sou a pessoa mais feliz do mundo! Se soubesses
o que é a religião Católica", e acrescenta, sem apagar-se o sorriso de
seus lábios: "Jesus, te amo! Que doce encontro! Virgem Maria".
Dirigiu umas palavras de consolo aos seus familiares, entre
eles ao Freddy, que a estava tratando como médico e entregou sua alma ao
Criador.
Todos estes testemunhos pudemos ouvi-lo 3 irmãs deste nosso
Carmelo, a viva voz, por parte de 3 irmãs de sangue da venerável que moram em
Assunção e também por parte das monjas do Carmelo de Assunção. Ir. Paula, Ir.
Ivone e eu (Ir. Milagros) tivemos a graça de visitar o Carmelo de Chiquitunga,
conhecer Ir. Ana Maria, a colega de noviciado da Venerável e a única que ainda
sobrevive da geração que com ela conviveu. Tivemos a imensa graça de rezar
junto ao seu túmulo e ver as relíquias de Maria Felícia, entre elas o cérebro
que se conserva incorrupto, os seus escritos, desenhos, cartas... Tivemos a
grande graça de conhecer e conversar com Karitina, Magalí e Amarú, as 3 irmãs
de Chiquitunga que moram no Paraguai (Mireya mora em Argentina).
Queremos agradecer aqui a acolhida de nossas queridas irmãs do Carmelo de Assunção, muito carinhosas e acolhedoras. Agradecer também as irmãs da Venerável, que se deslocaram até o Carmelo para que pudéssemos conhece-las e falar com elas.
Nossa pequena caravana foi pagar uma promessa. O Sr. Pedro,
nosso amigo que estava com um grave câncer, pediu a intercessão da Venerável
Maria Felícia para poder ser curado de sua doença, e vendo-se curado ele quis
ir agradecer.
Eis algumas fotos de nossa viagem, toda uma travessia. Em 12
horas estivemos em 3 países, Brasil, Argentina e Paraguai.
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Atravessando o rio Uruguai |
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Comunidade atual do Carmelo de Assunção, e nós três deste Carmelo de S. Ângelo |
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No locutorio com as irmãs de Chiquitunga |